O texto a
seguir é um trecho de um artigo, apresentado no VI Simpósio de
Linguagens e Identidades da/na Amazônia Sul-Ocidental. O estudo foi
conduzido quando fui bolsista PIBIC/CNPq da Universidade Federal do
Acre, sob orientação da professora Drª Verônica Maria Elias Kamel. A pesquisa desenvolvida tinha como objetivo analisar os discursos
dos alunos e professores de três escolas da rede pública do estado do
Acre, para isso estes sujeitos responderam alguns questionários.
O
ensino de Língua portuguesa deve estar pautado em concepções de
linguagem e texto mais amplas, em que os recursos linguísticos não se
restrinjam somente a estrutura gramatical e o texto não seja visto como
um objeto estático, vinculado somente à modalidade escrita padrão. Com o
aparecimento das novas tecnologias surgem também novas formas de
interagir, logo novas formas de se expressar, pensar e agir se originam e
com elas meios inovadores de receber e produzir textos.
Portanto, se o
ensino adota uma nova abordagem de texto e linguagem, ele estará
conectado às mudanças que vêm ocorrendo no mundo atual, pois o texto
presente nas novas tecnologias reflete a constante mudança nas
manifestações da linguagem, com efeito, o ensino não deve fundamentar-se
em conceitos e noções antiquadas, se a realidade concreta mostra
justamente o contrário.
Como sabemos os processos de leitura e
escrita, fica em grande parte das vezes a cargo da disciplina de Língua
Portuguesa, por esse motivo nela deve-se aprender a lidar com os mais
variados gêneros e tipos de textos. Conforme os PCNs, as TICs reinventam
e veiculam os mais variados gêneros textuais e como elas estão
extremamente ligadas ao dia-a-dia de grande parte dos alunos, é normal o
aluno ter mais contato com as tecnologias da informação fora da escola
e, por isso, é necessário que a escola ensine como ler, criticamente e racionalmente o que é difundido por meio delas.
Nos discursos dos professores os recursos tecnológicos são
convenientes para a apresentação de imagens, portanto adota-se uma noção
de texto mais abrangente, prioriza-se a produção de sentidos e a
interação entre os interlocutores. Sobre a constituição do texto é
possível, com o auxílio de recursos tecnológicos, ensinar conteúdos como
coerência e coesão em textos verbais ou não verbais, quadros, desenhos,
músicas, ajudam a desvincular certas ideias. Pode-se trabalhar, por
exemplo, a coerência em charges, músicas, vídeos ou ainda trabalhar a
ideia de coesão em ambiente de hiperlinks. O hiperlink é bastante
produtivo para ensinar processos de coesão porque permite elevar a
coesão textual para outro patamar, pois os elementos coesivos não serão
somente recursos linguísticos, mas também o próprio leitor que de acordo
com sua preferência definirá a ligação entre as informações
apresentadas. A hipertextualidade, propiciada pela inserção de
hiperlinks, possibilita maior intertextualidade o que resulta na
apreensão de várias informações, em que o leitor percorre por vários
textos, escolhendo e definindo a ordem de leitura dos conteúdos mais
relevantes.
Outra questão interessante detectada é a reclamação
sobre as redes sociais que esteve presente em inúmeros discursos de
professores e alunos. Conforme seus discursos grande parte dos alunos
acessam quase que diariamente a internet, e navegam principalmente nas
redes sociais. Seria conveniente o professor aproveitar esse interesse e
redirecionar para os processos de ensino e aprendizagem, de forma que
os alunos pudessem participar de discussões, tecessem comentários,
discutissem notícias ou artigos publicados na internet. Desse modo, o
educador pode criar uma página pessoal na rede para a interação com seus
alunos, para que o contato com estes não se prenda somente ao espaço
escolar da sala de aula, mas também por meio de redes sociais como o
e-mail, os blogs, por exemplo. Esse instrumento de comunicação criado e
utilizado pelo professor e seus alunos servirá como espaço virtual de
discussão e disseminação de referências bibliográficas para cada
conteúdo de ensino e para cada aluno. Essa é uma das propostas
estabelecidas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino
Médio.
Como vimos pode-se trabalhar com uma infinidade de
conteúdos, várias atividades para empregar os aparatos tecnológicos no
ensino de Língua Portuguesa. Para isso o professor deve ter em mente que
estes dispositivos são apenas novos recursos didáticos assim como o
livro didático, o giz, o quadro, esses aparelhos não substituem o
trabalho do docente que ainda possui um papel de grande importância, o
êxito do trabalho com as TICs depende da criatividade do professor, do
planejamento adequado das atividades, da participação dos alunos e das
condições físicas e financeiras da escola. Assim concordamos com Ângela
Correira quando diz que “Em vista disso, temos que mais importante que
os meios (a tecnologia), é a práxis do educador com os educandos - e
vice-versa -,que cria significado emancipador e não a tecnologia por si
mesma”. (DIAS,2008,p.9).
Há um
longo caminho a se percorrer para uma boa integração entre a tecnologia e
a educação, já que atualmente existem vários empecilhos para o emprego
produtivo das tecnologias da comunicação e informação no ensino escolar.
Como notamos nos discursos dos alunos e professores a utilização não
apropriada desses recursos não acrescenta nada para a formação dos
discentes, logo é imprescindível a orientação e acompanhamento do
professor em tarefas que envolvam essas tecnologias.
Notamos
também que outro problema a ser enfrentado é a escassez de recursos
financeiros, materiais e estruturais que subsidiem a realização de
práticas pedagógicas assistidas pelos recursos tecnológicos, esses
problemas não se restringem somente ao uso das TICs na escola, uma vez
que grande da parte das escolas encontram-se em situações extremamente
precárias, falta material didático, falta condições físicas e custeios
para realização de projetos pedagógicos. Há a necessidade de orientar e
capacitar melhor os professores para executar ações educativas com o
auxílio dos recursos tecnológicos.
Contudo, de acordo com os
discursos dos professores, o compromisso com a educação, a dedicação e
criatividade podem superar esses obstáculos existentes. Eles procuram na
medida do possível transformar seu fazer pedagógico, almejando assim
inovar, melhorar e alcançar bons resultados de aprendizagem com o
emprego das tecnologias da informação e comunicação, mesmo que as
condições da escola não ofereçam oportunidades para utilizar
constantemente esses dispositivos.
Excelente texto, posto que não ignora a realidade, qual seja: a de que há escassez de instrumentos e recursos nas escolas brasileiras, além de reconhecer a necessidade de formar melhor tecnologicamente nossos professores. Não obstante os obstáculos que enfrentamos, utilizamos aquilo que temos disponível, movidos pelo compromisso que temos com a Educação em nosso país.
ResponderExcluirReconhecer e refletir essa realidade é necessário para repensar a presença das tecnologias na sala de aula. Analisar os dizeres dos sujeitos que estão envolvidos nesse processo nos mostra o que foi feito para que possa ser aperfeiçoado e o que está péssimo ou ausente seja reconstruido.
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